Questão de Prioridade

Os vereadores do município capixaba de Baixo Guandu receberão, até o final de 2012, R$ 2,4 mil reais mensais pelos seus relevantes serviços prestados à sociedade, dos quais destaco o aumento da quantidade de parlamentares, de 9 para 11, e a dobra da remuneração para a próxima legislatura, de R$ 2,4 para R$ 4,8 mil por mês; o prefeito eleito em outubro ganhará R$ 15 mil todos os meses para administrar a cidade.  Exemplo melhor do que é legal, mas não moral, não há. Legal porque a legislação atual permite que a remuneração dos vereadores seja proporcional à dos deputados estaduais, que por sua vez guarda proporção à do governador, e assim por diante. Mas imoral, porque como justificar tamanha remuneração aos representantes do povo eleitos em um município com 31 mil habitantes?
Infelizmente, exemplos assim assolam por todos os cantos, embora n’alguns municípios prevaleça o bom senso de que os representantes do povo devem servir ao povo, e não aos seus próprios interesses. Mas no Brasil tudo é difícil, infelizmente.  Nestes últimos dias a imprensa divulgou que o Governo Federal gastou mais de R$ 2 bilhões no Haiti, ao mesmo tempo em que milhares de mulheres morrem todos os anos por câncer no colo do útero, o que poderia ser evitado com investimento aproximado de R$ 1,5 bilhão/ ano. Daí pergunto: o que seria melhor para os brasileiros, acabar com esse tipo de câncer ou lutar uma guerra que não é nossa no Haiti?   
Na verdade, parece que vivemos todos em vários países dentro do Brasil, cada qual defendendo seus próprios interesses. Explico: estão abertas inscrições para o cargo de delegado de polícia federal (quase R$ 14 mil por mês) e para defensor público em Rondônia (pouco mais de R$ 13 mil) e no Paraná (salário inicial de R$ 10,6 mil). Todas essas atividades são imprescindíveis para a mantença do Estado Democrático de Direito, muito embora confiram remuneração inferior àquela do próximo prefeito de Baixo Guandu em 2013. E o garagista–chefe da Câmara Municipal de São Paulo embolsa mensalmente R$ 17 mil. Com todos esses exemplos, o salário mínimo nacional de R$ 622 e a declaração do delegado Joigler Paduano, de Caxias do Sul/RS, de que indiciaria a aposentada Odete Prá, 87 anos, por homicídio doloso, porque teria disparado por três vezes contra o ladrão que invadira seu apartamento, não poderiam causar nenhuma estranheza, pois de muito ultrapassada a tênue linha que separa a conduta legal da imoral, ou da legal mas injusta. Na ordem das prioridades, de muito se perdeu o essencial.

Vladimir Polízio Júnior, 41 anos, é defensor público (vladimirpolizio@gmail.com)

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