Quem era o Chefe?
Noticiou o jornal “O Estado de São Paulo”, de 25 de outubro,
que o juiz mineiro Geraldo Claret de Arantes, da 1ª Vara da Fazenda Pública de
Belo Horizonte, foi precursor de um entendimento que pode proliferar nos
tribunais brasileiros.
Num caso concreto,
determinou o magistrado que viúva receba valor integral da pensão percebida
pelo marido morto, R$ 4.801,00, e não R$ 2.575,71. Isso porque declarou
inconstitucional a Emenda nº 41, de 1993, que trouxe novas regras para a
previdência: "Esta reforma está
maculada definitivamente pela compra de votos, não representou a vontade
popular. Ela padece do vício do decoro parlamentar", afirmou,
salientando que "Essa reforma foi a
mais violenta de todas na expropriação de direitos. Ela viola a cláusula pétrea
da Constituição do direito adquirido. A pensão não é uma benesse, é o
ressarcimento do que o cidadão pagou a vida inteira. Não pode o governo chegar
no meio do jogo e mudar a regra, dizendo que ele vai receber a metade".
O presidente da OAB/MG, Luís
Cláudio Chaves, concordou: "O
fundamento dele é interessante, amparado numa compra de votos que influenciou a
vontade parlamentar. Se ficar provado que o processo legislativo sofreu uma
influência por conta da compra de voto de parlamentares, ele pode ser
considerado nulo", disse Chaves.
Essa decisão é consequência
direta do julgamento da Ação Penal nº 470, ou simplesmente “mensalão”, pelo STF. Isso porque os
ministros entenderam que houve compra de votos dos parlamentares pelo governo
da época, e se houve compra de votos, significa que a votação que aprovou a
reforma da previdência deve ser desconsiderada. Isso faz todo o sentido. O
então Chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente do partido do Chefe do
Executivo da época, José Genuíno, todos foram condenados pela compra de votos
de deputados e senadores, a chamada “corrupção
ativa”.
O problema começa aqui. Por
qual motivo Dirceu e Genuíno buscariam comprar votos sem prévio conhecimento do
presidente? Imaginar um amplo esquema de corrupção engendrado apenas por
subalternos, e que tenha como único escopo facilitar o trabalho do chefe, não
faz o menor sentido, ainda mais quando não estão envolvidas pessoas ingênuas. A
modificação da Constituição era objetivo do governo da época, e se essa reforma
foi corrompida pela compra de votos pelo governo, não podem apenas alguns arcar
com o ônus. Falta um elo para fechar definitivamente a corrente. Lula lá!
Vladimir Polízio Júnior, 41
anos, é defensor público (vladimirpolizio@gmail.com)
Comentários