Os Superpoderosos
Dos vários predicados que
deve dispor um magistrado está o de se manter equidistante das partes e de
atuar com retidão e isenção. Aliás, são pressupostos mínimos, sem os quais se
antevê um mau juiz, porque não são poucas as tentações decorrentes do exercício
de tão nobre arte, a de julgar seus semelhantes dizendo quem está com a razão.
E quanto mais alto o cargo, em regra maiores os interesses em litígio.
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De tempos em tempos surgem
escândalos envolvendo aqueles que deveriam estar sempre acima de qualquer
suspeita. O Conselho Nacional de Justiça, por exemplo, iniciou suas atividades
no último dia 27, sob comando do ministro do STF Joaquim Barbosa, tendo na
pauta várias sindicâncias para apurar incompatibilidade entre rendimento e
patrimônio de magistrados.
Assim, não deveria causar
nenhum espanto o mais recente escândalo do governo federal em São Paulo, que
resultou na exoneração do advogado-geral-adjunto da União, José Weber Holanda
Alves, por ordem da presidente Dilma Rousseff. O exonerado, apontado pela
Polícia Federal como participante de um esquema de venda de pareceres técnicos,
era “braço direito” do advogado geral
da União, Luís Inácio Adams, segundo noticiou o jornal O Estado de São Paulo do
dia 26: “Todos se recordam de que o
advogado-geral bancou a ida do adjunto para o cargo, mesmo após a Casa Civil
vetar o nome dele, por causa de supostas irregularidades cometidas em cargos
anteriores. Servidores da AGU já organizam protesto por moralidade no órgão,
marcado para a quinta-feira.”
O problema é que Adans
estava cotado para ser ministro no Supremo Tribunal Federal. Se não fosse esse
percalço, muito em breve ocuparia a vaga de Gleisi Hoffmann, na Casa Civil,
para depois assumir a cadeira no STF. Isso porque, embora o parágrafo único do art.
101 da Constituição Federal estabeleça que caiba ao Senado Federal aprovar, ou
não, o nome indicado pelo Presidente da República (é dele a prerrogativa de
indicar os ministros), na prática não me recordo que algum tenha sido
rejeitado, de modo que a atuação dos senadores é meramente simbólica.
Isso é ruim para a
democracia. Graças a essa incúria dos senadores corremos sério risco de ter,
entre os onze ministros da nossa mais alta Corte de Justiça do Brasil, guardiã
da Constituição, alguém que não tenha “notável
saber jurídico” ou “reputação ilibada”.
Ao menos agora, neste caso, fomos salvos pela Polícia Federal.
Vladimir Polízio Júnior, 41
anos, é defensor público (vladimirpolizio@gmail.com)

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