A nova velha política
Já votei em Lula e em vários
candidatos do PT ao longo dos anos, principalmente em José Genuino como
deputado federal, mas nunca fui filiado. Votei Bolsonaro em 2018 por não
encontrar em outro candidato perspectiva real de mudança da denominada velha
política. Na verdade o candidato que mais representaria essa mudança seria João
Dória, mas por insistência de Alckmin em manter-se candidato, tal qual Ulisses
Guimarães em 1989 ao obstaculizar a candidatura de Quércia ao Planalto, Dória
virou governador de São Paulo e o resto todos sabemos: o candidato do PSDB escorraçado
com menos de 5% dos votos e ficou em terceiro, nossa quase presidente em 2014
Marina perdeu até para Cabo Daciolo e cravou 1%, e no final do 2º turno
Bolsonaro venceu Haddad.
Passada a histeria da vitória
pelos mais fanáticos, o discurso via redes sociais ainda suplanta as
necessárias e indispensáveis políticas efetivas de governo. O resultado é que
mais de uma vez o presidente foi desmentido por ministros porque fala bobagens,
na maioria das vezes, e sobre o que não sabe, quase sempre. O problema é que
antes da eleição ele não era diferente, de modo que a frustração do eleitor se dá
mais no campo do que se imaginava que poderia ser o governo. Explico: Já ouvi
de muitos que a frustração com o atual mandatário do Planalto ocorre porque se
imaginava que efetivas políticas públicas fossem implementadas o mais rápido
possível, que o Estado seria mais transparente e eficiente, e que o partido, e
os políticos, do presidente significariam a ressureição da ética e da
moralidade na administração pública.
Nada disso aconteceu, pelo menos
até o momento. Por isso a ideia de um barco à deriva ser tão atual e
verdadeira: a falta de habilidade na articulação com parlamentares para
aprovação de reformas, a inabilidade de um discurso único para a política
exterior e interior, a ausência de coesão entre partidos da base do governo são
apenas alguns dos entraves que necessitam ser superados o mais breve possível.
O mais grave, porém, é a
distância entre o apregoado em campanha e a prática com relação ao tema
corrupção, aqui utilizado como gênero que engloba as espécies “crime comum” e
“crime eleitoral”. Lembro-me de que Collor foi eleito em 1989 com o slogan
“caçador de marajás”, mas talvez isso seja apenas coincidência. Bolsonaro
apregoava aos quatro ventos que seu governo acabaria com a corrupção perpetrada
pelo PT ao Estado e que nessa “nova política” não haveria espaço para
ilegalidades, arbitrariedades ou malfeitos. O que se vê, ao contrário, são mais
exemplos de recidivo dos substantivos que de muito qualificam negativamente
políticos.
Não bastassem as histórias no
mínimo de questionável idoneidade acerca dos valores que circulavam no gabinete
do agora senador carioca Flavio Bolsonaro administrados pelo assessor Fabrício
Queiroz, a deputada federal Ale Silva, do PSL/MG, confirmou em entrevista à
Folha de São Paulo de 13/abr/2019 sofrer ameaças por denunciar esquema de
candidaturas fraudulentas no PSL mineiro, comandado pelo ministro do Turismo. Deputado
federal melhor avaliado nas urnas de Minas Gerais, com mais de 230 mil votos,
Marcelo Álvaro Antônio, atual ministro do Turismo, é acusado pela deputada de
criar candidaturas fictícias com o intuito de desviar recursos eleitorais.
Na matéria da Folha a deputada “afirmou
que descobriu o esquema após a eleição, a partir de relatos de políticos do PSL
de Minas e de pesquisa nos dados da prestação de contas das candidatas
apontadas como sendo de fachada”. Alegando ainda “temer represálias no partido”,
a parlamentar encaminhou o material e os relatos que tinha à Associação
Patriotas em Foco, no município de Coronel Fabriciano, que elaborou representação
ao Ministério Público dias antes da publicação da primeira reportagem sobre o
caso.
Em matéria de 14/abr/2019 pela
Revista Fórum, a deputada estadual Janaína Pascoal, do PSL/SP, declarou “Todo
meu apoio à Deputada Federal Alê Silva. E agora, Presidente? O Ministro do
Turismo fica? A Deputada Federal eleita também estaria mentindo? Exijo a
demissão do Ministro! Não tem que esperar conclusão de inquérito nenhum!”
Enfim, segue o barco à deriva. Nestes
pouco mais de 100 dias de governo, dois ministros já caíram, Bebiano e Vélez. O
caso Queiroz está longe de ser solucionado e extraordinários os indícios de
laranjas apodrecidas dentro do PSL, partido do presidente da república.
Definitivamente, a nova política nunca foi tão velha: até o cheiro é o mesmo.
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